- Teresa Ribeiro
Antes que se evapore...

Por Teresa Magalhães Ribeiro
Quando descemos o rio Tejo, já onde ele encontra o mar, encontramos na margem esquerda esta pequena aldeia chamada Cova do Vapor, aldeia de pescadores, mas também estância balnear que parece ter sido bastante popular, até à década de 40, antes do crescimento da Costa da Caparica, aqui ao lado. É o pedaço de terra mais próximo do Farol do Bugio e dizem que em tempos se podia atravessar a pé, durante a maré baixa.
Entretanto o mar tem vindo a avançar, muitas casas que inicialmente eram de madeira tiveram de recuar, dizem que arrastadas por juntas de bois. Hoje algumas casas ainda são de madeira, outras já de construções improvisadas, aliás, a aldeia parece estar sempre em obras, há carrinhos de mão e sacas de cimento um pouco por toda a parte.
As casas estão encavalitadas, com ruelas ou serventias muitos estreitas, faltam muitas infraestruturas – não há escola, não há centro de saúde, nem junta, a eletrificação é o que se vê - mas não falta o sentido de humor, pois aqui podemos atravessar a ‘5ª Avenida’ ou a ‘Rua dos Milionários’, devidamente assinaladas com placas de azulejo.
Tão perto da Capital, vê-se na outra margem o estádio nacional, os prédios modernos do município do Oeiras, mas aqui as portas não se trancam, toda a gente se conhece, a vida corre pacatamente entre uma pequena mercearia, a padaria/pastelaria que vende as melhores bolas de Berlim que já provei e uma pequena venda de roupas baratinhas, divertidamente chamada de ‘A Boutique das Jeitosas’.
A Associação de Moradores parece ser muito dinâmica, construiu um parque infantil aproveitando tábuas e pneus velhos, existe um espaço à mão de todos, onde podemos deixar livros e levar outros para ler, um pequeno campo desportivo com balizas onde não falta o meio bidão onde já se assam umas febras, e que bem que elas cheiram… enfim, o sentimento de pertença a uma comunidade que tem vindo a desaparecer nas nossas cidades, está aqui bem vivo, ainda.
Claro que, sinais dos tempos, tenho vindo a observar algumas transformações. Há já algumas casas muito bem recuperadas, onde só vemos gente ao fim-de-semana com bons carros à porta e já se vai ouvindo outras línguas, faladas por jovens de diversas origens que encontram no recém-aberto hostel o espaço ideal para ficar e conviver, nos intervalos do surf.
A razão de ter vindo aqui fazer este trabalho, talvez algo ambicioso para a minha pouca experiência, foi de documentar uma aldeia que creio que esteja a desaparecer, só não sabemos o que chegará primeiro: o turismo desenfreado ou a fúria do mar?


