top of page
  • António Heitor

Os melhores #momentosadmiraveis de 2023 … o Outono







Por António Cláudio Heitor


O Outono para muitos dita o começo de uma época mais “tristonha” onde a vegetação muda de cor e de roupagem. Mas na verdade este nosso Mundo Rural tem sempre uma surpresa à nossa espera. São as folhas que mudam de cor quase diariamente, as árvores que vão ficando despidas de folhas, as tonalidades avermelhadas e acastanhadas que vão conquistando a paisagem e uma mistura entre fim de alguns ciclos e o recomeço de outros.

É tempo de nos prepararmos para o tempo frio e chuvoso, talvez à volta da lareira entre familiares e amigos, reforçando laços de amizade e reavivando memórias que nos tragam felicidade. A maior humidade e menor temperatura possibilita um acordar da muita vegetação e de preparação para o período de “descanso” durante o Inverno, um pouco como se o campo se prepara-se para uma longa sesta.

 São tempos de sabores e saberes diferentes daqueles que deliciaram os meses mais quentes e tal diferença acaba por refletir a mudança na luz e nas cores entre o Verão e o Outono. Isso obriga-nos a ter algum cuidado na forma como pensamos a imagem e interpretamos as medições de luz e cor da máquina. Ou seja, acho que o Outono merece que o retratemos como ele é, algo tristonho e com cores avermelhadas e acastanhadas, mas na verdade é mesmo assim, pois se fosse mais “colorido” e seria Primavera. Ou seja, devemos capturar os momentos tal como eles são e não adulterá-los para aquilo que nós gostaríamos que fosse, embora sejamos livres de o fazer, mas não estaremos a retratar o Outono.

 Esta questão pode parecer irrelevante, mas é um dos temas discutidos na formação e para o qual dediquei muitos momentos de 2023 … se queremos retratar o que estamos a ver, por vezes teremos de registar coisas menos bonitas, mas não deixam de ser interessantes. Mas regressemos então aos momentos. O Outono é tempo de começar a fazer o novo vinhos, de planear as próximas culturas e de prepara o fumeiro. Ou seja, o recomeço de novos ciclos.

O terminar de alguns ciclos significa que estamos no tempo do São Martinho, da castanha e da azeitona. Soutos e olivais são elementos das nossas paisagens rurais e locais de muitas tradições e reencontros. Nos meses de Outono as famílias encontram-se para a apanha da castanha e da azeitona, tarefas árduas mas que são hoje um exemplo vivo de tradições e vivências rurais de outros tempos.

 Estes pomares, soutos e olivais, ganham por isso uma dinâmica interessante nesta época, contrastando com a (aparente, diria eu) falta de vida dos restantes campos agrícolas.

Os meses de Outono são também a época de muitos cogumelos aparecerem e nos mostrarem as suas cores e feitios. Nunca esquecer que muitos não são comestíveis e outros mesmo tóxicos e mortais. Se não os sabemos identificar devemos ficar pela imagem, que é o meu caso.

As diferentes cores e formas que vão adquirindo ao longo do tempo é razão para revisitar o local. Neste caso tive a oportunidade de ir uns dias a Trás-os-Montes, às encostas da Serra da Padrela, famosa pela magnífica castanha. Foi por aí que encontrei algumas manchas de floresta mais densa onde os cogumelos abundavam mas a luz não (devido á copa mais densa). Noutros tempos tinha desistido de fazer a imagem, mas se há outra frase que retive do Neno é “trabalha-se com a luz que se tem, é preciso é ter kit de unhas”.

Perder o medo de arriscar e ir atrás da imagem que queremos é fundamental, o que me obriga a estar atento não só a esses bosques sombrios, mas também às bermas dos caminhos, que devido à chuva, parece que ganham uma nova energia. Devido a esta humidade a vegetação das bermas de manhã pode ainda ter algumas gotas de água, o que dá um efeito fabuloso. Numa das saídas da formação, fizemos um exercício de “contra-luz” que tenho tentado aproveitar numa perspectiva de “forçar o erro” na imagem. Confesso que gosto do efeito e sim há um ensinamento do Neno por detrás desta abordagem: é fundamental nós conhecermos e sabermos as regras … para assim sabermos como as podemos desrespeitar.

  

E perder o medo de arriscar significa que devemos olhar para um motivo, um tema ou uma história de diversas perspetivas, pois enquanto fotógrafos, mesmo que amadores, temos o dever de registar esses #momentosadmiraveis para a posteridade. Se não o fizermos perdemos uma parte importante da nossa identidade enquanto povo e enquanto nação.

O Mundo Rural ao longo dos séculos tem sabido ultrapassar todas as crises e adversidade, adaptando-se a condições sempre em constante mudança. Mas para o fazer não podemos perder a identidade desse mundo #naturalmenterural em todas as suas perspetivas. Mas isso fica para o próximo capítulo dos meus #momentosadmiraveis de 2023.




bottom of page